pelat

por Vânia Saunitti*

“Pelat” se configura como um espetáculo que permite ao público interação e construção coletiva. Um artista, um tronco de árvore, giz branco, um balde, cordas e tecidos constituem os elementos que irão dar sustentação à intervenção ao ar livre. O artista catalão Joan Català entra em cena como um transeunte qualquer, se não fosse um grande e pesado detalhe: o tronco que ele carrega nas costas e que chama para si a condução do espetáculo.

O homem forte com semblante enigmático e sério desperta curiosidade nas pessoas presentes. Não há comunicação oral e, após uma exibição impecável de equilibrismo, Joan dirige-se ao público convidando, por meio de gestos, quatro homens semelhantes em porte físico. O espetáculo se dá com essa interação entre os convidados, participantes ativos da cena, e o público que dá risada e bate palmas a cada performance realizada pelas cinco pessoas. Joan que conduz o roteiro é parte dele, não sendo mais o único a brilhar em cena. Neste momento a interação corre, criando uma trama que vai enredando e envolvendo a todos.

Contando sempre com o improviso, característico das intervenções urbanas e coletivas, o artista consegue manter um enredo que interliga todos os atos. Desde sua entrada na praça até a formação da trama com cordas que ao final formam um esqueleto de lona circense, Català é fio condutor da empreitada, pois, além dos quatro homens, o público ao redor se deleita quando se vê carregando e transportando o tronco até ele chegar a seu ponto pré-estabelecido pelo giz branco. Não há preocupação com o tempo, e a obra é construída por muitas mãos. “Pelat” mexe com o imaginário coletivo e propõe um olhar para o todo.

O espetáculo carrega a marca de uma bem-resolvida singeleza, sem perder a força da teatralidade, trazendo para aqueles que fazem parte da encenação uma visível sensação de prazer que eleva o espírito e fascina. Na era da comunicação digital ascendente, a intervenção joga com a plateia e traz à tona reflexões sobre a experiência humana, despertando indagações como “É possível construir algo sozinho?” ou “O quanto o trabalho em grupo é essencial na constituição do ser social?”

 

Como parte das ações formativas do festival, o Laboratório de Critica em Circo propôs atividades teóricas e práticas visando ao participante a ampliação do repertório de vocabulário, estéticas e conhecimentos sobre a atividade circense. 
O texto acima, elaborado por um dos participantes, é resultado desse trabalho.

Write a comment:

*

Your email address will not be published.